O corpo é meu, ninguém põe a mão

Os dados no Brasil são alarmantes. A cada dia, cerca de 100 crianças e adolescentes até 14 anos são abusados sexualmente, segundo o Ministério da Saúde e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Esse crime acontece em todas as camadas sociais e em 90% das vezes é praticado dentro de casa, seja por um familiar, um amigo ou conhecido. As vítimas preferenciais são meninas, 85%, especialmente entre 6 e 10 anos. O abusador, em geral, é do sexo masculino.

O corpo é meu, ninguém põe a mão foi criado a partir desse universo e apresenta situações frequentes de abuso. Mostra como o abusador se aproxima da vítima e a envolve em um sutil jogo de sedução. Retrata o drama que a criança passa a viver, em que se misturam os sentimentos de fraqueza, culpa, medo e isolamento.

A juíza Tatiane Moreira Lima, titular da Vara de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, em São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo, conhece bem essa realidade ao lidar com incontáveis ações de abuso. Procurada pela jornalista e editora Denise Natale, aceitou o desafio de escrever em parceria um livro infantil baseado em casos reais. O objetivo das autoras foi traduzir, com cuidado e delicadeza, o crime a que crianças e adolescentes são submetidos todos os dias no Brasil. O corpo é meu, ninguém põe a mão pode alertar crianças, adolescentes, pais, amigos, pessoas próximas da família e professores a identificar os abusos e denunciá-los.

As ilustrações de Veridiana Scarpelli captam com suavidade o abuso vivido pela gata Estrela, os monstros que passam a cercá-la, até o alívio ao revelar sua história e a punição do abusador, a raposa Lupi Lantra. O livro indica ainda os caminhos para buscar ajuda institucional, e isso é bastante relevante: dados oficiais apontam que em 90% dos casos os agressores não são denunciados e seguem impunes.